Cavalo marinho e outros poemas:

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Cavalo marinho e outros poemas –

Cavalo-marinho,/ por tua mercê/ mande vir o boi/ para o povo vê. Assim se canta, Brasil afora, nos autos do Bumba-boi. Cumpre indagar, contudo, que boi é esse trazido pelo capitão Rizzo e de que forma será feita sua partilha.

Os cascos ferem o duro chão de Minas, onde vige “um vastíssimo impedimento”, um “desejo/ de eterno assoreamento”. Muitos poemas, neste Cavalo marinho, tematizarão justamente, um pouco à maneira de Drummond, a experiência da realidade como obstáculo e postergamento, e um tipo de posse cuia contraface é certa perda de si mesmo: “Como no céu de Minas pairasse/ que eu agora a possuía// e me assustava// e me perdia”. Também aqui as pedras no meio do caminho não caem de um céu metafísico, antes rolam da ribanceira da história traindo um passado de jugo e espolia-ção. Porém, à diferença das retinas fatigadas pela lição de que “toda história é remorso”, neste livro “toda vingança é recusa”. Recusa que nasce no “corpo liso e quente”, cresce feito “um míssil/ violento e generoso” e que por vezes apro-xima, no cerne da vindicação, trombadinhas com “febre nos cadarços”, a velha avó, “lúcida de um longo vinho”, coxos fantasmas, mendigos e excluídos de toda sorte. Donde o tom utópico-profético em vários poemas e a gana de auto-sacri-ficio impondo-se contra o “leniente catecismo’, fonte de nossa inércia ante o mundo inimigo.

Voltando ao animal, a cauda move-se em meio espesso, opaco (lama, sangue ou mercúrio), gerando um tipo de comunicação na qual se afirmam, a um só tempo, as trevas da matéria e o gume do desejo. Imagens de opacidade, aliás, afloram em vários momentos, constituindo talvez uma chave de leitura promissora. Lê-se à certa altura que “tudo é opaca mensagem”. Opaco aos nossos olhos é o peixe “que dispara silencioso/ e leve/ dentro da lama/ como um dar-do”, opaco (e mecânico), o corpo de Cristo dormindo “nas salinas/ nos estaleiros” (“Corpo de Cristo”), o lodo invencível que “habita inerte o teu corpo” (“Celebração do poeta final”) e o grito furioso com que “irrompe vespertina a revo-lução”. Curiosamente também, suportar a opacidade sem ódio, como ocorre nas naturezas-mortas de Morandi (“Morandi e o tempo”), é uma forma de redimir a carne “tisnada/ de idade e matéria” e convocar a eternidade. De forma semelhante, ainda no campo do diálogo com as artes plásticas, é possível conservar alguma graça e distinguir cores a partir do cinza que é “trabalho quieto/ dentro da lama” (“Henri Matisse*). Daí que a opacidade seja então, ao mesmo tempo, um atributo do adversário contra o qual se luta e a arma com que se o enfrenta.

A luta estende-se ainda aos poemas eróticos, com corpos dissidentes alvejados por “olhos/ de mina/ explosiva” e estilhaços de seio ferindo o “peito dançarino”. Quando não é bélico embate, o encontro amoroso empresta as metáforas de um duro trabalho, demandando “carinhos rupestres” e a “indefesa lavoura” dos beijos. Inversamente, a sensualidade contamina seja os poemas com substrato histórico (o “sêmen fundiário”, a “umidade genital” nos desvãos de Minas), seja os metalingùísticos, fazendo com que o ato de ler se aproxime ao de despir e beijar um corpo (“A revista gasta”), com que os versos convertam-se em animais famintos (“Poema com fome”), ou numa doença que consome o hospedeiro, compondo-se o poema ao preço de nossa decomposição (“Poemas em composição”). O
que também pode ser visto em passagens como “o poema vibra/ em teu pâncreas devastado/ flutua/ em teu pulmão tão repleto de fibroses/ e mastigadas intenções de abraço” (“Receituário”), nas quais ecoa algo do pessimismo escatológico de um Augusto dos Anjos.

Entre os poetas com que Rizzo estabelece contato, figuram, além de Drummond, já mencionado, Murilo Mendes, Jorge de Lima e, com um pouco mais de frequência, Cabral, cujo ritmo argumentativo (a obsessão no desdobrar das comparações e metáforas) aparece, por exemplo, em poemas como “Vidro e corte”, “Fluvial” e “Mencionar o ferro”. No entanto, tudo é metabolizado de modo extremamente pessoal e vazado numa linguagem na qual se combinam, o que é raro, flama e refinamento.

Mas é tarde, cesse o preâmbulo. Presente de grego ou não, o cavalo já transpõe os muros da cidade. Não se sabe ao certo o que traz no ventre. Tome o leitor as providências que julgar adequadas e aguarde a manhã, promessa de novas batalhas na terra da luta vã. (Fabio Weintraub)

Na poesia de Ricardo Rizzo tudo é metabolizado de modo extremamente pessoal e vazado numa linguagem na qual se combinam, o que é raro, flama e refinamento.

Sobre o autor: Ricardo Rizzo nascido em 3 de agosto de 1981, na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. Atualmente é estudante da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora. Cavalo Marinho e outros poemas é seu livro de estréia em poe-sia, e pôde ser publicado com os recursos da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura – edição 2002.

Especificação: Cavalo marinho e outros poemas:

Autor

Formato

BOOK

Editora

ISBN

9788586372384

Ano de Publicação

2002

Número de Páginas

136.0

Dimensões

12.0 x 0.5 x 18.0

Idioma

Português

Edição

1

Encardenação

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