As ásperas esferas do amor:
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As ásperas esferas do amor –
Estas estórias circulam num ambiente delimitado, pois parecem formar um pequeno formigueiro ou cupinzeiro. Mas não são estórias de insetos, senão de gentes bem humanas. As personagens têm memória e memórias quase tudo retalhado como colchas mal cerzidas e coloridas e parecem mais ou menos sem rumo.
São assim personagens desarrumadas…conquanto num condomínio muito urbano onde poderiam reinar a concórdia e alguma felicidade. Porém se assim fosse certamente não haveria estória nenhuma a contar. Neste mundo estrambólico, concórdia e felicidade não são narráveis.
Então, um narrador muito astuto junta o que poderíamos chamar de pequenas topadas do cotidiano, comédias de riso sem gargalhadas, e ali explora sem dramas nem tragédias a incapacidade humana de ser minimamente feliz.
A astúcia do narrador figura em diversas linhagens um pacto de leitura muito original, no qual o leitor tanto fica fora quanto dentro do condomínio. Uma armadilha principal será por certo o descompasso entre os títulos das estórias e seu conteúdo de bagatelas. O leitor talvez chegado às grandiloquências pega um título e logo supõe uma vasta narrativa correspondente. Mas é desarmado, meio que cai do cavalo…
Suponho que esses recurso e percurso, insistentes, a presidir o livro, primeiro sugerem algo da crônica de Machado de Assis, depois constituem a exibição do convencionalismo da verdade ficcional. Evapora-se assim qualquer pretensão de verdade encerrada nas palavras do narrador e seu ponto de vista. Como parece ser a evidência de todas as verdades.
E, entretanto, as chamadas pequenas misérias da vida diária (ou não) das mulheres e homens comuns habitantes de um condomínio urbano de classe média baixa estão ali e são verdadeiras.
Assim, o paradoxo revela e oculta as facetas dessas gentes que existem aos milhões e são nossos semelhantes. Uma escrita rigorosa fisgada à linguagem popular, adequada ao narrador e às personagens, completa o mérito dessas estórias, que ao fim e ao cabo também são pequenas histórias da humanidade.
Valentim Facioli
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Sobre o autor: Professor e formado em Letras, Ariosto Augusto de Oliveira é autor do romance “A pesada memória da noite”, “Seis ficções à deriva”, “O Vau da Vida” e “Perversos”, que também foi publicado pela editora Nankin.
Especificação: As ásperas esferas do amor:
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