Saudade do meu gato Dom:
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Saudade do meu gato Dom –
A literatura tem seus desafios e a palavra luta com seus (des)limites. Podemos, como declarou Manuel Bandeira, ocuparmo-nos de um lirismo bem-comportado, comedido, um lirismo funcionário público, com livro de ponto, expediente e protocolo. Podemos gastar as tintas da nossa pena com descrições do arrebol. Falar de luas que crescem, mínguam, de estrelinhas. De flores e amores, rimando tudo com alegria. Podemos até nos distanciarmos ao máximo e fazer textos insípidos, bem adestradinhos, tratando de qualquer coisa que afinal resulte em um muito sobre nada. Corremos inclusive o risco de sermos ovacionados por críticos que amem a forma pela forma… Podemos preencher linhas e mais linhas como quem se distrai em prática de caligrafia, observando a regularidade dos desenhos do papel. Tudo pode ser, afinal, razão ou desrazão de literatura. Ou podemos, no exercício de toda impotência, tratar de temas que nos corroem a alma, mesmo as mais distraídas, mesmo as que tentam distanciar-se de dores como a do luto.
Nesse conto testemunho, o narrador fala da perda de um gato. Não era assim um gato tão amoroso o tempo todo. Fazia escolha de afetos. Que gatos o seriam? Dom, que já tinha virado personagem de final feliz, numa narrativa anterior, personagem eternizada na escrita de Francisco, em O Gato Dom, agora falece. Dom nem era ficção. Era pura presença no mundo, com todo direito de ser e viver. Mas a vida… A vida dos gatos é sempre mais breve, conforme sinalizam os que contam a idade dos gatos. A nossa, quem saberá? O que um dolorido narrador nos revela é que cuidados, mimos e o amor não protegem ninguém da inesperada morte das gentes. É assim a vida. É assim esse um conto que fala da partida de um gato, com expressões de dor que só sente de verdade, lá bem dentro, aquele que ama. [Dra. Luiza Helena Oliveira da Silva, Escritora e Profa. Universitária]
Especificação: Saudade do meu gato Dom:
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