Pequenas catástrofes:
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Pequenas catástrofes –
Pequenas Catástrofes, de Nicole Oliveira
Pequenas Catástrofes também é um livro de contos. Nele, alguns acontecimentos reais servem de contexto para histórias fictícias de vidas atravessadas por uma tragédia. O imaginário medieval, marcado por uma permanente contaminação da realidade objetiva pelo universo fantástico, serviu de inspiração para a escrita, que se dá em quatro partes: a primeira apresenta histórias marcadas por catástrofes ambientais; a segunda conta sobre a vida catastrófica das mulheres; a terceira discorre poeticamente sobre supostos problemas de pouca ou nenhuma relevância; e, por último, uma nova astrologia é criada para contemplar a personalidade tragicômica dos seres que sobreviveram até hoje: nós.
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Sabe-se que as palavras há muito tempo abandonaram a linguagem e passaram a determinar a geografia do planeta, assim como a água, a terra, o fogo e o ar. Feitas relevo, fertilidade e destino, elas podem operar tanto como território cercado quanto como um campo aberto do qual desponta um precipício.
Este livro, feito de muitas palavras e geografias, oferece um abismo e uma clareira que desorientam nossa percepção a respeito daquilo que é pequeno e mítico. Dessas coisas do viver – do catastrófico e do sagrado – sabemos que cada pessoa possui a sua experiência e impressão.
Nicole Oliveira, entretanto, em suas pequenas palavras-catástrofe nos insere num enredo comum: do Gênesis ao Apocalipse. O que poderia ser uma aventura penosa, torna-se uma espécie de folia: às vezes triste, às vezes uma vingança saborosa, às vezes o derretimento do corpo ao final de um dia tão, mas tão quente…
Se o fogo de um acarajé pairando sob uma catedral europeia nos faz sorrir, vingados diante de nossa miserável herança colonial, a autora também experimenta o ancestral exercício de catalogar os fenômenos misteriosos. Com precisa ironia, ela nos faz rememorar o impulso de fazer do mistério palavra que pôde produzir desde os indecifráveis mapas astrológicos até as enciclopédias colaborativas virtuais. Em seus escritos míticos-mundanos, a autora assume ousadias: exige a redefinição do desenho do próprio céu e afronta um deus que nos olha com completa indiferença.
Lendo essas pequenas catástrofes logo percebemos: não estamos caminhando por uma via que vai do princípio ao fim, mas sim do chão às estrelas. E é nesse corajoso intervalo que a autora nos faz confundir os espaços entre a tragédia e a felicidade. Para os ofendidos: eu sinto muito.
Luiz Pimentel
Nicole Oliveira (1985) é escritora e professora. Graduada e mestre em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo, escreve desde 2009 roteiros e peças teatrais. De uns tempos pra cá tem se aventurado em outras áreas da literatura, sendo este seu primeiro livro de contos publicado. Também é mãe da pequena Lis.
Especificação: Pequenas catástrofes:
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