O que não tem censura nem nunca terá: Chico Buarque e a repressão artística na ditadura militar
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O que não tem censura nem nunca terá – Chico Buarque e a repressão artística na ditadura militar
“Durante anos, o Brasil viveu dentro de uma jaula do medo. […] O [período] mais recente pode ser resumido nas pouco mais de duas décadas que vão do começo de 1964 a meados de 1985 e que foi marcado por uma forte repressão.
Chico Buarque foi o maior símbolo desta perseguição cultural e política.
Quando a ditadura se declarou vitoriosa, ele não havia completado vinte anos. Quando o AI-5 foi decretado, Chico recém fizera 24 e era um veterano, com seu nome já inscrito na história da MPB […]. E já era visado pela Censura.
A partir de então, Chico não teve descanso. Foi perseguido, censurado, vetado, exilado, cortado e até, de forma temporária, calado. […]
Nunca alguém havia recebido uma marcação tão forte e injusta na cultura brasileira. Em determinado momento, […] três de cada quatro composições que ele produzia eram censuradas, tornando impossível a montagem de um repertório mínimo para um show ou um disco. Em última análise, Chico atravessou boa parte dos anos 70 proibido de criar.”
O gênio censurado
A ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985 coincidiu com a fase inicial da carreira de Chico Buarque (1944-), um dos maiores compositores da história da música brasileira. Foi em 1966 que o jovem estudante de arquitetura lançou “A banda”, seu primeiro grande sucesso. Nesse mesmo ano, “Tamandaré”, outra composição sua, foi proibida pelo Serviço de Censura, por ofender o almirante Tamandaré, o patrono da Marinha. Era o primeiro encontro de Chico com a Censura – o primeiro de muitos.
No ano seguinte, seria a vez de Roda viva (peça de sua autoria dirigida por José Celso Martinez Corrêa) ser alvo dos censores. Em dezembro de 1968 era baixado o Ato Institucional no 5, que suspendia todas as garantias constitucionais e dava início aos “anos de chumbo”. A partir daí, os artistas brasileiros não teriam mais paz. Para Chico, veio o autoexílio na Itália, a atividade de correspondente informal do contracultural O Pasquim e a criação de músicas antológicas, sob o tacão da Censura.
Foram dezenas de composições; algumas proibidas de imediato, e outras – como “Apesar de você” (1970) – que passaram inicialmente despercebidas pelo radar dos censores (não muito versados em sutilezas). Chico, articulado e bem-humorado, defendia-se concedendo inúmeras entrevistas. Resultado: tornou-se a face mais expressiva da resistência democrática. Algumas de suas criações, como “Cálice” (cale-se?), com Gilberto Gil, se tornaram hinos de oposição ao regime militar. Talvez nenhum outro artista tenha sido tão sistematicamente perseguido como Chico. Isso durou até o álbum Francisco, lançado em 1987 – quando se preparava a Constituição Cidadã, que, promulgada em 1988, passou a garantir a liberdade de criação artística.
Este livro traz um relato da relação conflituosa entre um dos artistas mais geniais já produzido pelo Brasil e a Censura oficial do regime militar. Ao mesmo tempo, trata-se de um magistral resgate da perseguição e da repressão artística no mais recente período em que todas as liberdades foram suspensas em nosso país. Um deleite para fãs e não fãs; para os que viveram durante a repressão militar e para as novas gerações que pouco ou nada sabem sobre o que é viver e criar sob o autoritarismo.
Especificação: O que não tem censura nem nunca terá: Chico Buarque e a repressão artística na ditadura militar
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