O chimpanzé cobaia:
R$35.00
O chimpanzé cobaia –
Mas será Raduan? Quem é o autor, personagem do livro de Marcelo Carnevale? É André N. ou Benedito M.? O chimpanzé cobaia somos nós, leitores-amantes
da literatura, ou é o escritor que nos deixa órfãos de autoria? Nesse pequeno grande livro, um jornalista-escritor busca seu escritor favorito para aprender a perdê-lo –
objeto de desejo, ele escapa pelas páginas e pelos poros da pele até ser encontrado naquele banheiro de um bar paulistano… Afinal, de que vale a literatura diante
deste gozo anônimo? Vale o cheiro da lavoura arcaica e o gosto agridoce de um copo de cólera. Sarcasmo, ironia e delicadeza mescladas, o estilo deste livro é lapidar e
visceral – “Não há decisão que não envolva uma assembleia do corpo”. Como num jogo de detetive, o jornalista quer escrever sobre o famoso escritor, chegar a entendê-lo, a tocá-lo, quem sabe, e a desvendar a chave do enigma: “Por que abandonar a literatura?”. Esse é um adeus insuportável para quem está do outro lado do
livro. Enquanto o jornalista quer saber o sabor do texto, o escritor quer falar das mudanças climáticas. Atualíssimo, o livro nos leva para o âmago da terra e suas texturas.
“A página branca, como o campo, também opera mudanças; na sua ausência de música, oferece uma imagem plena de luz. Nela não é possível experimentar qualquer
tipo de tranquilidade, é preciso parir estratégias, cavar, penetrar além da superfície ofuscante (que inibe a intuição); sem cerimônia, é preciso desmitificar a si mesmo, desmascarar-se antes de qualquer palavra escrita, romper com os acordos internos, com as conclusões, com os vícios do olhar, com a possível capacidade de reconhecer-se na ira. Evitar o teatro da autocomiseração, para eliminar qualquer nível de drama, inclusive o da demolição dos próprios pilares morais; provocar um rasgo no próprio nome.”
Menos do que a saudade, o que se busca é a surpresa: o oxigênio da escrita e sua presença que capta o inesperado: “A vida é viva, é possível tocá-la num outro registro onde os protocolos não funcionam para intimidar, onde a gentileza avança rumo ao afeto escancarado”.
Sutil, ágil e preciso, o livro é bordado tanto pelo prazer da trama quanto pela firmeza da mão, que abre brechas para registrar a dor da agulha furando a pele. Sem explicações, aqui é a personagem quem proclama: “Hoje, minha presença é minha literatura”. Emulação e homenagem, cópia e original, livro e dissertação, romance e teoria, escritor e modelo, personagem e escritor, dentre todas as figuras, a quaresmeira deixa seu sentimento estampado nessas páginas. Nesse breve e denso mergulho, a “água que torna a realidade espessa resgata em nós o tempo da literatura”. Você vai se surpreender.
Marília Librandi
Marcelo Carnevale nasceu em 1969 no Rio de Janeiro. Com pós-graduação em literatura brasileira e humanidades, dedica-se a ministrar aulas de escrita criativa e a colaborar com publicações jornalísticas.
Especificação: O chimpanzé cobaia:
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