Lugar periférico, ideias modernas: Aos intelectuais paulistas as batatas
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Lugar periférico, ideias modernas – Aos intelectuais paulistas as batatas
Lugar periférico, ideias modernas, do sociólogo Fabio Mascaro Querido, é uma análise sobre os intelectuais ligados à Universidade de São Paulo dos anos 1960 à década de 1990. Resultado da tese de livre-docência do autor, defendida em dezembro de 2022 na Unicamp, a obra revela como a vertente “marxista acadêmica” exerceu significativa influência nos debates sobre a abertura democrática dos anos 1980 e na vida política brasileira nas décadas seguintes.
O livro examina como alguns personagens representaram simultaneamente o auge e o declínio do pensamento sobre a modernidade no país. Durante os anos 1970, em plena ditadura civil-militar, surgiram análises sofisticadas sobre as particularidades da sociedade brasileira, desafiando o desenvolvimentismo até então hegemônico na esquerda. No entanto, na década seguinte, com raras exceções, como a de Roberto Schwarz, observou-se um distanciamento dessas ideias por parte dos acadêmicos e uma aproximação destes com formulações universalistas, quer seja a visão de mundo neoliberal, que encontrará expressão no PSDB, ou a perspectiva classista, elaborada a partir da experiência do PT.
Lugar periférico demonstra como a corrente intelectual da época moldou o pensamento sobre a democracia brasileira após a ditadura, bem como as mudanças e as divisões que ocorreram. Analisa esse importante capítulo da política, capaz de reinterpretar o passado e projetar futuros para o país.
Trecho
“A virada para os anos 1990 define novas bifurcações no âmbito dos intelectuais paulistas sobre os quais versa este trabalho. E não poderia ser diferente. São vários os acontecimentos que, num curto período, pareciam indicar que uma ruptura de época estava se consumando […]. No Brasil, o impacto foi ainda maior, à medida que suplantou as esperanças que haviam se produzido na década anterior. As derrotas de Lula nas duas primeiras eleições presidenciais após o fim da ditadura foram, a esse respeito, bastante sintomáticas. Em 1989, a vitória de Collor representou o sufrágio popular da perspectiva neoliberal, em tensão com o espírito da própria Constituição promulgada no ano anterior. Mas foi com a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência da República, em 1994, que o caldo entornou de vez, inclusive pelo simbolismo, que tocava no âmago da vertente intelectual aqui analisada. Principal responsável, ao lado de Giannotti, pela formação do marxismo acadêmico paulista no fim dos anos 1950, em plena euforia desenvolvimentista, Cardoso se tornava agora presidente do Brasil à frente de uma coalizão liberal-conservadora à qual caberia preparar o país para a inserção vantajosa no mundo globalizado. Não sem algum paradoxo, portanto, o fechamento do horizonte de expectativas ganhava sanção intelectual de prestígio, capitaneada pelo sociólogo outrora marxista, social-democrata e, agora, arauto da globalização neoliberal.”
Especificação: Lugar periférico, ideias modernas: Aos intelectuais paulistas as batatas
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