Juntos e misturados: um jeito freireano de ensinar e aprender

Juntos e misturados – um jeito freireano de ensinar e aprender

Este livro apresenta um estudo que se fundamenta no pensamento freireano, unindo duas contribuições de sua vasta obra: a pedagogia dialógica e o círculo de cultura, para apoiar a introdução de mudanças paradigmáticas que viessem a se constituir em inovação pedagógica, numa prática comum em escolas das zonas rurais brasileiras, que são as classes multisseriadas. Para tanto, descreve a organização e a dinâmica de uma classe multisseriada que pressupõe, na organização de seu processo de ensino-aprendizagem, a inclusão de estudantes de diferentes séries, com diferentes níveis de desempenho cognitivo e de faixa etária e que, devido a essa heterogeneidade, constitui-se em imenso desafio para os professores de zona rural, despreparados para atuar com tal diversidade. Nessa perspectiva, propõe o formato de um círculo de cultura, prática intrinsecamente dialógica utilizada na organização de grupos sociais, como estratégia de organização possível nessa classe. O lócus deste estudo foi uma classe multisseriada de uma escola municipal da cidade de Itapissuma, no estado de Pernambuco, no Brasil. Foram realizadas observações depois de organizar a sala no formato e nas orientações teórico-metodológicas do círculo de cultura, ao mesmo tempo que foram descritos os eventos ali ocorridos. Os dados construídos apontam para a possibilidade de se considerar a introdução do círculo de cultura em uma classe multisseriada como inovação pedagógica, na medida em que foram rompidos alguns procedimentos impregnados na prática pedagógica tradicional dessas classes, como o planejamento das atividades que passou a ser elaborado coletivamente, a partir de temas geradores sugeridos pelos estudantes e as tarefas que passaram a incentivar mais a criatividade do que a repetição de modelos. Essa inovação, caracterizada como Inovação Pedagógica Dialógica, vem subsidiada pelas contribuições da pedagogia de Paulo Freire, pelo fato de o diálogo ter sido vivenciado constantemente na prática da sala de aula, entre os educandos e entre estes e os educadores, sendo facilitado pelo formato do círculo de cultura.