Desterro: memórias em ruínas
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Desterro – memórias em ruínas
Há quem diga que São Paulo é a cidade de todos os povos. Mas poucas vezes o grande público tem acesso ao que esses povos pensam sobre São Paulo – ou sobre o que significa, ao mesmo tempo, viver no Brasil e pertencer a uma cultura muito diferente. Conhecer essa convivência que nem sempre é descontraída – embora não necessariamente conflituosa – é o que nos oferece esse belo e delicado relato memorialístico de Luis S. Krausz. O autor, educado num ambiente fortemente marcado pelo respeito à tradição judaica e à cultura de língua alemã, é neto de imigrantes judeus do antigo Império Austro-Húngaro, que se desintegrou com a Primeira Guerra Mundial. Seu livro é um percurso saudoso desses tempos de glória, aos quais seus avós se apegam com quase desespero. Nascido e criado em São Paulo, Krausz se vê herdando a saudade de tempos e lugares que nunca viveu, ao mesmo tempo que se defronta com a realidade brasileira contemporânea, alheia às ruínas de memória que carrega consigo, num diálogo angustiado, que trai, quando não explicita, a perpetuação desse desterro a pairar sobre sua história como condenação bíblica. Seu estilo, como requer o decoro confessional, está eivado de descrições de paisagens, emoções, sensações, detalhes e caracterizações de personagens – alguns muito impressionantes, como o avô obcecado com a coleção de relógios em preciso ordenamento, sacralizados numa inacessível sala-santuário, como se guardassem os mistérios da Revelação, ou o amigo refugiado em seu Walhala, aguardando a neve em Campos do Jordão ao som de Wagner. Há parágrafos longos, profundamente reflexivos, às vezes constituídos de uma única frase – como é o caso da que abre o livro – e enunciados agudos, constatações sobre a natureza humana em sentenças lapidares, condensação de personalidades em gestos sutis que só um olhar muito arguto poderia captar.
Especificação: Desterro: memórias em ruínas
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