A vida dos pinguins:

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A vida dos pinguins –

Estes pinguins de Airton Paschoa parecem aves, bichos, mas são humanos – especialmente humanos, fundamentalmente humanos, que é o que de fato interessa – aparentemente provenientes dos cronópios e famas de Júlio Cortázar e dos bichos-humanos subterrâneos nascidos de Kafka, mas talvez de outras origens, que falam de uma humanidade nos limites do quase nada, mas falam de si e de nós todos.

Trata-se de uma fala de mínimos limites, de mínimos argumentos ou constatações, um mundo semifalante, como se a palavra se dissolvesse na não-fala, em busca de sentidos indisponíveis, que arcam com as palavras feito um peso morto, no qual a metáfora ou alegoria do título do livro remetesse a um mundo remoto e perdido.

Porém, não se trata de um mundo morto, senão de nosso mundo feito ruínas, fragmentos do que poderíamos ser, ter sido, a rigor, do que somos. Para lembrar Eliot, trata-se de uma terra devastada, como sobrante de um bombardeio que nos desfez e nos restos do qual nossos corpos e nossa mente se movem em busca de alguma coisa. Que coisa?

Este livro de Airton Paschoa é um modelo excelente das possibilidades da literatura sem concessões, do texto sem as consolações corriqueiras das historinhas – críticas ou edificantes – que a mídia promove para conforto dos leitores do entretenimento. Trata-se de alguma coisa construída para avanço da arte contemporânea, talvez herdeira do surrealismo mais radical, em busca de desfazer a promíscua relação entre arte e mercado.

Ao leitor atento não escapará a força do humor, da ironia e da sátira, como linhas estilísticas que perpassam os textos, a demonstrar que nada se pode dizer mais a sério, pois a seriedade, hoje, tornou-se pouco amiga, senão inimiga, das verdades. E se há uma força suprema nos textos deste livro é a busca de verdades, – da Civilização-barbárie, que é a nossa –, verdades sempre instáveis e sem pontos de vista definidos, porque as verdades, aqui, parecem ser sempre o outro, algo abstrato a ser escavado na consciência além. Uma busca sem fim e sem encontro, mas imprescindível para forjar a mais consequente literatura.

Some-se a essa experiência de escrita radical os demais trabalhos já publicados por Airton Paschoa, construindo uma notável unidade produtiva, tendo em vista os Contos tortos (1999), Dárlin (2003), Ver navios (2007), Banho-maria (2009), Poemitos (2013), como conjunto inovador e persistente nas inovações e na radicalidade.

Ao leitor cabe conviver com as fortíssimas tensões dos textos e alinhar-se à aventura de pensar e refletir em suas propostas e seus temas, como algo que a vida intelectual não oferece de barato mas recompensa como poucos livros da nossa literatura contemporânea. É um desconforto para crescer e humanizar-se. (Valentim Facioli)

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Sobre o autor: Airton Paschoa, 56 anos, é autor de Contos tortos (1999), Dárlin (2003), Ver navios (2007) e Banho-maria (2009), publicados pela Nankin, e foi um dos editores da rodapé – crítica de literatura brasileira contemporânea, revista que contou três números, também dados a público pela mesma editora. Com graduação em Jornalismo e mestrado em Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo, escreve esporadicamente sobre cinema e/ou literatura e publica em algumas revistas de circulação nacional, como Revista Novos Estudos Cebrap, revistausp, Cult e piauí. Lançou em 2013 Poemitos (juvenília), pela Dobra Editorial, e vai tocando Poemastros, Sonetos em prosa & Citações e Levante.

Especificação: A vida dos pinguins:

Autor

Formato

BOOK

Editora

ISBN

9788577510955

Ano de Publicação

2014

Número de Páginas

72.0

Dimensões

14.0 x 0.5 x 21.0

Idioma

Português

Edição

1

Encardenação

Brochura

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