À roda de Brás Cubas: literatura, ciência e personagens femininas em Machado de Assis
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À roda de Brás Cubas – literatura, ciência e personagens femininas em Machado de Assis
UM MACHADO DE COMBATE
A retomada das discussões sobre as Memórias póstumas de Brás Cubas – o romance machadiano tão estudado nos últimos anos, no Brasil e alhures – merece reconsideração essencial. Este livro de Daniele Megid não é mais de caminho ou fundamento literário, ou de crítica literária, mas o de uma jovem e competente historiadora, que recupera o contexto intelectual de debates e embates da Revista Brazileira, na qual Machado de Assis publicou diversos textos e o romance saiu pela primeira vez como folhetim em capítulos fragmentados em 1880.
A recuperação desse contexto demandou pesquisa inteligente e circunstanciada dos debates da época, que corriam fora e especialmente nas páginas daquela Revista. Assim, a chamada ´batalha do Realismo´, as contendas correntes no periódico – e, inclusive, suas pretensões sociais, científicas e filosóficas, além de seus eventuais leitores – são esclarecidas. As Memórias póstumas são, então, situadas como a grande ´resposta´ machadiana sobre os temas vivos e debatidos em matéria de literatura, de busca da verdade, das ciências físicas e da política, entre outros. Vê-se por aí que a resposta machadiana levava e não levava a sério o debate brasileiro, mas era o que havia por aqui…
Por esse percurso – até agora quase inexplorado – fica patente que as MPBC não caíram do céu e nem foram simplesmente produto de uma explosão súbita do gênio machadiano. O ´grande salto´ de Machado parece ter surgido de um complexo de tensões sociais, intelectuais e literárias vivido naquele momento histórico e no interior da Revista Brazileira. Certamente explicação mais consistente do que hipóteses biográficas ou outras, que pretenderam – e pretendem – ´explicar´ a passagem da dita ´primeira fase´ à ´segunda´ na obra de Machado. Aliás, bem vistas as coisas, o embate machadiano sobre o processo civilizatório no Brasil, já vinha de antes e durou até o fim de sua vida, em 1908.
Mas não é só isso. Este À roda de Brás Cubas discute outro ´salto´ machadiano, que é o tratamento ou a construção das personagens femininas – as mulheres na nossa sociedade escravista – a demonstrar a independência e inteligência do escritor, ao debochar, envenenar e desmantelar os preconceitos mofados através dos quais eram vistas as mulheres, no Brasil e também no Ocidente supostamente civilizado.
Aí fica, mais uma vez, demonstrado o quanto Machado de Assis era adiantado na nossa periferia semicolonial, sempre a iluminar a dialética do progresso x atraso e as contradições inerentes no processo social brasileiro.
Valentim Facioli
Sobre a autora: Daniele Maria Megid possui graduação e mestrado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2009 e 2012). É doutora em História Social pela Universidade Estadual de Campinas, atuando principalmente nos seguintes temas: Imprensa, Machado de Assis e personagens femininas.
Especificação: À roda de Brás Cubas: literatura, ciência e personagens femininas em Machado de Assis
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