Lição de casa: e poemas interiores
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Lição de casa – e poemas interiores
A educação profunda consiste em des. fazer a educação primeira. A semelhança do que Valéry anotara à margem de sua Introdução ao Método de Leonardo da Vinci, a lição que se depreende deste novo livro de poemas de Carlos Felipe Moisés guarda o sal do insabido.
Espécie de segundo tempo do aprendizado, exercício praticado menos pela obrigação de inventariar ou fixar o que se conhece e mais pelo gosto de novas experiências – à luz abrupta do desejo (que “torna o solerte / tatibitate / e o mais esperto / tarta / mudo”) ou “entre os escombros / da memória calcinada” -, a lição aqui é a da busca incessante, a do recomeço não obliterado pelo vivido e tampouco facilitado pela ingenuidade dos verdes anos. Não importa que tal recomeço seja somente um “estrondo que ninguém ouve, / estilhaço de cristais / entre as dobras do travesseiro”, nem que o caminho tido por novo seja apenas uma curva a mais no labirinto que o Minotauro vigia. E preciso, pois, retomar a lição que, por covardia ou preguiça, julgávamos terminada.
Imbuído desse espírito, Carlos Felipe caligrafa afetos, perverte regras de com-posição, reinventa a Antigüidade, subjetiva climas, dialoga com outros poetas (Bilac, Oswald, Bandeira, Drummond, Manoel de Barros, José Paulo Paes), entrega-se a trabalhos manuais, faz ginástica…, sempre com a indispensável ironia (repassada de liris-mo) que o acompanha desde há muito.
Cabe então ao leitor, discípulo de si mes-mo, usufruir dessa lição sem mestre, sem a esperança de outro diploma que a alegria de continuar se espantando na pró-
pria casa.
Fabio Weintraub
Sobre o autor: Carlos Felipe Moisés nasceu em São Paulo, SP, em 1942. Desde início dos 60, dedica-se à poesia e à crítica literária, a que se somaram, mais tarde, a tradução e a literatura infanto-juvenil. Formado em Letras pela USP, deu aulas de literatura, durante anos, em várias universidades, e sempre soube que ensinar é só um disfarce para aprender. Alguns de seus livros publicados são A poliflauta. São Paulo, Massao Ohno, 1960; Signo e aparição. São Paulo, Massao Ohno, 1961, plaquete; A tarde e o tempo. Florianópolis, Roteiro, 1964. Prêmio-estímulo Governador do Estado de São Paulo; Carta de Marear. São Paulo, ed. do A., 1966. Prêmio Governador do Estado de São Paulo; Poemas reunidos. São Paulo, Cultrix, 1974 (reúne os anteriores mais Urna Diurna). Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte; Círculo imperfeito. Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1978. Prêmio Gregório de Mattos e Guerra; Subsolo. São Paulo, Massao Ohno, 1989. Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Especificação: Lição de casa: e poemas interiores
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