De pai para filho:
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De pai para filho –
No capitalismo tardio, após décadas de neoliberalismo, muitos estão sem educação, sem saúde, sem alimentação, sem trabalho, sem moradia, sem transporte, sem lazer, sem segurança, sem aposentadoria e sem participação nas decisões políticas que afetam suas vidas. Além disso, todos esperamos ser atingidos algum dia por eventos extremos provocados por ações humanas prospectadas, autorizadas e administradas com fins lucrativos. Enquanto isso, minorias sexuais são usadas de bodes expiatórios por quem agrava o drama social. Neste cenário, alastra-se uma sensação justificável entre nós trabalhadores de que viver não é bom e que ficará pior, donde alguns de nós concluem que seria errado colocar outrem neste mundo. A situação é tão grave que, para repor os trabalhadores, os donos do poder tentam obrigar meninas e mulheres a terem filhos até mesmo de estupros.
Acho que, por isso, muitos se surpreendem quando um homem como eu decide ser pai solo atualmente. Este livro é uma carta em poemas ao meu filho, explicando a ele os motivos que me levaram a tê-lo. Talvez compartilhando esses poemas com você, leitor, leitora, leitore, eu consiga responder à pergunta que me fazem. “Por que ter um filho?”
Daniel Couto Valle Ponto
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O que é ser pai? Toda criança precisa de uma mãe?
Essas dúvidas afligem todo homem que deseja criar um laço com os seus filhos similar ao que uma mãe tipicamente cria na nossa sociedade.
No caso de um pai solo na Alemanha, surgem mais dúvidas. Como fazer para que a nossa família seja completa, ainda que o meu filho não tenha uma mãe, em uma sociedade que valoriza tanto os vínculos genéticos? Como fazer para que o meu filho não se sinta o “escolhido” ou um “membro de uma raça aprimorada” sendo que eu o selecionei após análise genética de vários embriões e sendo que ele vive em uma sociedade que não só promoveu um genocídio para “aprimorar a raça” como também ainda discute esse plano na política?
Aqui entram as minhas cartas-poemas. Seguindo a estrutura da poesia clássica, escrita para ser memorizada e cantada, construo versos que servem de mantra, versos para serem lembrados quando o meu filho mais precisar deles, versos com os quais conto o que ele não viu, mas que revelam nas letras, nos sons, nos tons e nos ritmos a farsa da “paternidade genética” e o que nos faz bem considerar família. Ao fim, revelo a ele o que lhe deixo de herança neste novo tempo.
Aos leitores e ouvintes destas cartas-poemas, eis aqui uma nova paternidade possível, a qual foi precisamente planejada por mim para ser bem diferente daquela que eu recebi do meu pai.
Especificação: De pai para filho:
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