Poemas:
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Adonis não foi só o principal renovador da poesia árabe, realizando uma revolução poética que, no Ocidente, exigiu o trabalho de inúmeros autores de diversas procedências. É, ainda hoje, uma das vozes fundamentais dessa cultura, na qual se destaca pela constante insubmissão à dominante religiosa. Na poesia de Adonis, mais do que a polifonia das várias vozes, encontramos o politeísmo das múltiplas verdades. Contra a certeza de um Deus, a verdade plural das musas. Não por acaso, adotou o nome de um deus pagão para assinar seus poemas – em que a presença da cultura prê-islâmica e pan-mediterrânea é fortíssima. Não se trata somente de um posicionamento poético, mas, sobretudo, político. Daí que Adonis, embora entusiasta das manifestações conhecidas como Primavera Árabe, mantém-se crítico em relação aos desdobramentos, especialmente quando a demanda por liberdade é capturada por fundamentalistas islâmicos e pelas antigas nações coloniais. Também dissente das soluções armadas (seu pacificismo radical fica claro nos poemas sobre Beirute e Nova York, recolhidos nesta antologia). E repugna-o a hipocrisia do Ocidente: “Se os ocidentais querem defender os direitos humanos dos árabes, eles devem começar defendendo os direitos dos palestinos”, observou numa entrevista. “O vinho que corre na veia da melhor poesia árabe também circula nos poemas de Adonis. O vinho como metáfora da grande poesia: assombro, prazer, embriaguez do conhecimento, e uma percepção expansiva da realidade e do eu lírico, capaz de expressar um sentido aguçado de beleza e alcançar o sublime.” – Da apresentação de Milton Hatoum
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