Machado de Assis: impostura e realismo

Machado de Assis: impostura e realismo

As dissimulações da ficção de Machado de Assis não se resumem aos olhos de Capitu. Personagens e narrador, temas e linguagem, tudo compõe um conjunto que precisa ser lido no sutil intervalo entre o dito e o não dito. É isso que faz John Gledson neste brilhante estudo. Sua análise de Dom Casmurro, atenta e perspicaz, desvela os mecanismos de um realismo literário para o qual os elementos históricos e sociais não são apenas assunto ou comentário marginal, mas incorporam-se à estrutura narrativa, onde dialeticamente se camuflam. Assim, ao contrário do que alguns críticos do passado sugeriram, a obra de Machado não pode mais ser acusada de desprezo pela “cor local” brasileira. De maneira convincente, Machado de Assis: impostura e realismo mostra que a prosa machadiana encobre múltiplas e refinadas relações entre o material literário e as características fundamentais da sociedade brasileira do século XX. O fato de tais relações não se manifestarem num nível superficial e evidente é prova do fôlego e importância deste livro extremamente revelador.