Do sonho à loucura: hospitais psiquiátricos e imigração portuguesa em São Paulo (1929-1939)

Do sonho à loucura – hospitais psiquiátricos e imigração portuguesa em São Paulo (1929-1939)

Do sonho à loucura – Hospitais psiquiátricos e imigração portuguesa em São Paulo (1929-1939), de Ewerton Luiz
Os caminhos da história da imigração são tão diversos quanto seus povos e os contextos que os impulsionaram a deixar seu solo. Do sonho da terra benfazeja e acolhedora, à busca da oportunidade de trabalho, milhares de pessoas se deslocaram entre o século XIX e o XX por diversas partes do mundo, tendo o Brasil como um dos ramais propagandeados, aportando aqui tantas gentes, quanto tantas nações.

Os portugueses foram, sem dúvida, um dos grupos principais que, fugindo as agruras vividas, principalmente no campo, aportaram em São Paulo, um de seus núcleos mais importantes. Do sonho à loucura tratou dessa chegada em terras paulistas nas primeiras décadas do século XX, com suas expectativas, possibilidades e obstáculos, buscando compreender, no entanto, uma esfera pouco conhecida dos analistas.

Para muitos desses portugueses o sofrimento da partida ou da chegada foi identificado como uma doença a ser diagnosticada e interdita. Percorrendo os sanatórios do Juqueri e do Pinel, aprendemos por meio das narrativas médicas e dos prontuários desses pacientes imigrantes as agruras vividas, sempre intermediadas, ora pelo conflito da estranheza, ora pela solidariedade nascida no dia a dia.

Se a vida no campo não trouxe, para muitos deles a riqueza da terra, a metrópole paulistana que crescia de forma vertiginosa abriu as portas para que essa nova gente chegasse, potencializando, na mesma medida, o desgaste da dura vida do trabalho urbano, de suas contradições desenhadas no abandono de muitos, aprofundando a decepção da terra prometida.

Por isso, a pergunta: chegaram doentes ou aqui adoeceram? Um sofrimento de difícil cura, afinal, se por um lado era uma dor da alma e da saudade tão conhecida da memória portuguesa, aqui descobriram que havia apenas um laço longínquo de uma história que um dia os uniu e que o mundo de agora demonstrava estranhamentos, inclusive, de dizer o que era ou não adoecer em chãos estrangeiros. Eis o desafio aqui empreendido.

Prof. Dr. André Mota
Faculdade de Medicina – USP

Sobre o autor: Ewerton Luiz Figueiredo Moura da Silva é graduado em História pela Unesp, Mestre em História pela Unifesp e Doutorando pelo programa de pós-graduaç64ão em Medicina Preventiva da USP.