Depois do corona: da crise à oportunidade

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Depois do corona – da crise à oportunidade

Um dos aspectos mais surpreendentes da crise da Covid tem sido a
resiliência dos mercados de capitais. Após uma breve queda quando
o surto se transformou em uma pandemia, os maiores índices de
mercado (Dow Jones, S&P 500, NASDAQ Composite) se recupera-
ram consideravelmente. Durante o verão do Hemisfério Norte, os
índices haviam recuperado a maior parte do terreno perdido, mes-
mo com as mais de 180 mil mortes norte-americanas, o recorde de
desemprego e nenhum sinal de recuo do vírus. Em um artigo de
capa do mês de junho, a Bloomberg Businessweek chamou o evento de
“A Grande Desconexão”.1 De acordo com a revista, mesmo os “espe-
cialistas de Wall Street” ficaram “pasmos”. Dois meses depois, no
momento de escrita deste livro, o vírus está matando mil norte-ame-
ricanos por dia e os índices de mercado continuam a subir.
No entanto, esses índices podem enganar. A “recuperação” tem
sido resultado de ganhos imensos de algumas poucas empresas, es-
pecialmente as big techs e outros grandes players do mercado. Esse
resultado não se reflete nos mercados públicos mais amplos. De 1º
de janeiro a 31 de julho de 2020, o S&P 500, que lista as quinhentas
maiores empresas públicas, estava positivo. Entretanto, as empresas
de médio porte registraram uma queda de 10%, enquanto as seis-
centas pequenas empresas do S&P 600 registraram queda de 15%.
Enquanto a mídia se mantinha distraída com objetos brilhantes,
como as big techs e os índices das empresas de grande porte, um
implacável abate da manada estava a caminho. Os fracos não esta-
vam apenas sendo deixados para trás; eles estavam sendo abatidos.
A lista de falências é longa e chocante: Neiman Marcus, J. Crew,
JC Penney e Brooks Brothers, Hertz (que é dona da Dollars e da
Thrifty) e Advantage, Lord & Taylor, True Religion, Lucky Brand
Jeans, Ann Taylor, Lane Bryant, Men’s Warehouse e John Varvatos,
24-Hour Fitness, Gold’s Gym, GNC, Modell’s Sporting Goods e XFL,
Sur la Table, Dean & DeLuca e Muji, Chesapeake Energy, Diamond
Offshore e Whiting Petroleum, California Pizza Kitchen, a filial
norte-americana da Le Pain Quotidien e Chuck E. Cheese.2 Ações
dos setores conhecidos como “BEACH” [acrônimo em inglês para
reservas, entretenimento, companhias aéreas, cruzeiros e cassinos,
hotéis e resorts] caíram, em média, de 50% a 70%.3
Isso ajuda a explicar o forte desempenho dos líderes do merca-
do. A avaliação de uma empresa decorre de seus números e nar-
rativa. Neste momento, o tamanho pode fomentar uma narrativa
não só sobre como uma empresa sobreviverá à crise, mas como ela
prosperará no mundo pós-corona. Após o abate, quando as chuvas
retornarem, existirão mais folhas para menos elefantes. Empresas
com dinheiro, garantia de dívidas e ações bem valorizadas se posi-
cionarão para comprar os ativos dos competidores aflitos e consoli-
dar o mercado.
A pandemia também está impulsionando uma narrativa de
“inovação”. Empresas consideradas inovadoras estão recebendo
uma valorização que reflete as estimativas dos fluxos de caixa daqui
a dez anos, e descontados a uma taxa incrivelmente baixa. Os in-
vestidores parecem focados na visão de uma empresa, na narrativa
sobre como ela pode estar daqui a uma década. É assim que, atual-
mente, o valor da Tesla é maior que o da Toyota, da Volkswagen, da
Daimler e da Honda juntas, mesmo que a Tesla, em 2020, tenha tido
uma produção de aproximadamente 400 mil veículos, enquanto as
outras quatro empresas fabricaram um total de 26 milhões.
O mercado está fazendo apostas ousadas sobre o ambiente pós-
-corona, e nós estamos vendo grandes ganhos e bruscas perdas. No
final de julho, a Tesla registrou um aumento de 242% no ano, en-
quanto a GM teve uma queda de 31%. A Amazon subiu 67% e a JC
Penney declarou falência. Essa “desconexão” — entre os grandes
e os pequenos, os inovadores e os antiquados — é tão importante
quanto a tão comentada lacuna entre o mercado e a ampla econo-
mia. Os vencedores de hoje são considerados os grandes vencedores
de amanhã, enquanto os perdedores de hoje parecem condenados
ao fracasso.
A questão sobre as previsões do mercado de capitais é que elas
são, até certo ponto, autorrealizadoras. Ao decidir que a Amazon, a
Tesla e outras empresas promissoras são as vencedoras, os merca-
dos reduzem seu custo de capital, aumentam seus valores de com-
pensação (por meio de opções de ações) e aprimoram sua habilidade
de adquirir aquilo que elas não podem construir sozinhas. E existe
uma quantidade incrível de capital buscando um lar neste momen-
to. O governo dos Estados Unidos injetou US$2,2 trilhões na econo-
mia, e, graças a algumas terríveis decisões políticas (falarei sobre
isso mais tarde), uma grande fatia desse valor entrará diretamente
nos mercados de capitais. Então, empresas que estavam indo bem
antes da pandemia se beneficiaram enormemente desta crise mun-
dial. Elas encontraram um financiamento disponível para absorver
perdas de receita, crescer mais que a competição e expandir para
novas oportunidades criadas pela pandemia. Enquanto isso, os con-
correntes mais fracos foram removidos dos mercados de capitais e
receberão um corte na sua avaliação de crédito, além de uma ligação
de seus credores e da desconfiança dos consumidores para negócios
de longo prazo.

Especificação: Depois do corona: da crise à oportunidade

Autor

Formato

BOOK

Editora

ISBN

9786555205336

Ano de Publicação

2021

Número de Páginas

256.0

Dimensões

16.0 x 2.0 x 23.0

Idioma

Português

Edição

1

Encardenação

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