Antes do orvalho, poesia no rosto: ler pra crer
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Antes do orvalho, poesia no rosto – ler pra crer
Estes poemas têm como cerne buscar palavras de poder. E que poder é esse, senão a linguagem do coração, em que buscamos na infância e nas recordações memórias quase antológicas do grito afônico do sentir, sensações que não sabemos descrever por vezes? Por isso, a obra soa como um grito, já que, no passado, não sabia articular um texto, mas as lembranças e as sensações são presentes. Não me esqueço jamais de uma história narrada por minha avó materna, na qual ela dizia que foi salva por uma frase: “Chagas abertas, coração ferido. Sangue de Jesus tem poder”. Na ocasião, ela estava em uma estrada estreita e vinha em sua direção um boi bravo e chifrudo. Do outro lado, uma cerca de arames farpados. Ao proferir a dita frase, ela fechou os olhos e abaixou a cabeça. Quando levantou, seu olhar viu que o animal se fora. No momento em que ouvi essa história, tinha, aproximadamente, doze anos de idade. Só depois de um tempo e estudando linguagem antiga, pude perceber que essa “estória” de minha avó materna tinha um fundamento relevante. É sabido que povos antigos empregavam frases de poder chamadas de conjurações, uma espécie de cabala judaica. Vemos no exemplo do rei Davi, ao se pronunciar ante a um desafio ou guerra: “Tão certo como Deus vive e vivo eu, venceremos essa batalha”.
Estes poemas têm como inspiração não só uma subjetividade intimista, mas uma descrição de palavras que traz contundência ao coração, um poder na evocação da imagem, descrições que só poderiam ser relatadas em poemas. Um professor amigo meu narra que um poema pode ser a descrição do belo, como também um soco no estômago; pode ser harmônico em seus versos, como também não rimado; palavras esculpidas em sonoridades únicas, ou apenas frases que podem nos levar a nuanças; ou ainda, como diria Dionísio, embriaguez sagrada dos poetas em seus estados de êxtase. Antes do orvalho, poesia no rosto: é nesse prazer de leitura matinal que busco sentimentos da primária vida em uma súplica no agora, trazendo, no eterno clássico atemporal de nossas vidas, emoções atiradas no rosto e em busca de novas conjurações. Boa leitura!
Especificação: Antes do orvalho, poesia no rosto: ler pra crer
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