Perfeição desfeita:
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Perfeição desfeita –
Uma narradora improvável conta uma história na qual é uma das “personagens”. Protagonistas se confundem dentre todos os outros coadjuvantes, em um enredo que não é possível determinar qual personagem é o principal. Talvez a própria narradora, ou, o que todos os coadjuvantes se tornam juntos.
A própria história é a protagonista.
Perfeição desfeita é desses romances sem heróis, é uma obra sobre humanidades, mas, com uma boa dose de ficção. É sobre o passado, o presente e o futuro, sem saudosismo ou julgamentos, apenas deduções. Impressões sobre os rumos da modernidade, da ciência e dos possíveis resultados dos nossos desejos, inseguranças e medos mais genuínos.
E o que poderíamos ter como resultado sobre a busca pela perfeição? Quais peças o destino pregaria, considerando tão previsíveis consequências?
Geralda, Francisco, Ângela e Ézio, poderão ajudá-los a refletir sobre isso. Entre suas dores e alegrias, seus anestesiamentos e suas tristezas, essas vidas entrecruzadas, a saga dessa família, resultou em uma história tão “perfeita” quanto a combinação de todas as imperfeições de cada um de seus componentes.
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O Frankenstein de Mary Shelley, o Dr. Moureau de H.G. Wells, clássicos da literatura que reproduzem a jornada prometeica do homem que não mede os limites da própria técnica e cria monstros. Esses personagens cientistas, bem ou mal-intencionados, depositaram na humanidade o custo pela sua ambição desmesurada. Esse tema se tornou mote da modernidade e não passa muito tempo sem que ressurja na ficção.
Perfeição desfeita ocupa um ponto dessa constelação. Mas, há algo de diferente. Talvez o século 19 visse o cientista enquanto ele trabalhava no laboratório, talvez a ciência então parecesse mais um feito individual, cheio de excentricidades (o estereótipo do gênio). Hoje nós vemos o cientista bem menos que ele nos vê. Primeiro que o cientista não é mais um, é uma rede deles; segundo que para nos ver ele não precisa se aproximar, pois a coleta de dados é feita por computadores; e terceiro que o cientista é sombreado pela potência de quem o financia. Quem conhece os cientistas das grandes corporações, como a Unilever? E quem se interessaria em conhecê-los? A ciência parece ter se transformado numa força anônima.
Perfeição desfeita é uma ficção mais abstrata, não mostra um vilão definitivo, apenas peças de uma vilania maior: a eugenia. Expressa, talvez, a realidade do nosso tempo, vivemos a ciência, vivemos seus feitos, mas sabemos pouco do que está por trás. A atmosfera do futuro distópico lembra a cidade embranquecida que comercializa doenças de celebridades, em Brandon Cronemberg. Também no romance haverá mutilação, metafórica e literal.
Vinícius Samuel
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Especificação: Perfeição desfeita:
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