Não sei quem colocará as mãos em mim:
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Não sei quem colocará as mãos em mim –
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Pessoas costumam ter um polegar opositor. Chimpanzés, gorilas e lêmures também seguram a existência com esta artimanha oposta e articulada. Temos o privilégio de conseguir dobrar o dedinho mínimo sobre a palma da mão para tocar a pinça de ossos. Agarramos coisas que nos aparecem e seguramos bem forte ou delicadamente, ora estrangulando mundos, ora afagando planetários. Soltamos rapidamente quando ameaçadas. Mas ao agarrarmos ou abandonarmos, somos também amparadas ou libertas. Criamos pontes magnéticas com o objeto e com o coração que tocamos, bem como quando os deixamos órfãos de nossas mãos.
Não sei quem colocará as mãos em você ao folhear as páginas deste livro que nos oferta extremidades de diversas falanges – insetos, ancestrais, afetos, escritoras. São convites para nos aproximar ou acenam despedidas?
Dissecará, guiada por atlas anatômico, as sulcadas linhas das palmas que nos surgem de dentro dos poemas dedilhados? Interpretará, tal quiromante que mais adivinha o futuro pelo toque do que por alguma magia divinatória, o calor ou a frieza das mãos calejadas que a poeta descreve? Segurará afetuosamente algum nome de pai, de mãe, de avós ou amizades, que surgem como holograma pelos versos bem costurados com a bagagem da memória? Soltará a mão que confessa pequenos extermínios por legítima defesa nos recortes confessionais da rotina esmagadora? Enxergará mãos parecidas com as que embalaram seu berço, curaram suas feridas ou que estapearam as suas para corrigir sua postura frente aos desesperos?
Não sei como colocará as mãos nestes poemas, mas sei que gostará de se deixar conduzir pela veracidade com que a poeta estende seus pulsos nas narrativas manuscritas, melódicas porque nos apontam biografias tão familiares, dolorosas porque nos representam enquanto fragilizados diante das doenças, das despedidas e das carências.
As mãos de Mariana encenam o que o olho vê. São garras, são patas, são pergaminhos, são instrumentos musicais incorporados pelas estrofes?
Ao tocar, saberá. As mãos da poeta estão aqui, abertas.
Andréia Carvalho Gavita
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Especificação: Não sei quem colocará as mãos em mim:
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