Pesadelo ambicioso:

Pesadelo ambicioso –

Para Fausto, o termo que define seus livros é “Fricção Científica”, “porque estamos esfregando, engolindo, friccionando tecnologia em nossos corpos de forma viciante e prazerosa. Sangue de plástico, sangue de fármaco, mente de fármaco, sentimento de fármaco, desejo de fármaco. A urbanóia, as cidades e o mundo transformados numa imensa mancha urbana com vazios que funcionam como intervalos perigosos de uma gincana sádica que é a vida no planeta. Para cada minuto de civilização, cinco de barbárie.”

Pesadelo Ambicioso reúne colagens conceituais e de imagens. Choque de fragmentações gerando a beleza atormentada e vertiginosa da atualidade. Letras expandidas, falações redirecionadas para o papel. Pesadelo Ambicioso é crônica da quarta guerra em curso. O que era privilégio de soldados ou de terroristas, está devidamente espalhado nas manchas urbanas: são transtornos de personalidade apocalíptica, com as redes sociais, acionando o gatilho de todas as inconsciências e pulsões possíveis. O ser humano transformou o planeta num fenômeno extremo, só resta a ele vivenciar o limbo das insuficiências científicas, políticas e religiosas. Por isso, muita gente quer fazer jus à situação geral e também se transformar num fenômeno extremo. Pesadelo Ambicioso é a crônica-ensaio-ficção dessa guerra mental, dessa busca alucinada por uma intensidade vital totalmente amoral e grotesca nos grandes centros urbanos, principalmente os do terceiro mundo.

Destaque para a designer Sônia Barreto, que recebeu do autor um grande repertório de seus processos criativos. Referências do grimorium medieval e, ao mesmo tempo, de almanaques underground dos anos 70. Sônia conseguiu com talento e maestria trabalhar com o excesso: as variações tipográficas, os traços/rascunhos e a caligrafia do autor, que dialogam com suas colagens feitas especialmente para o livro. As iluminuras dos livros medievais ganharam contemporaneidade a partir de molduras desenhadas por Fawcett e diferenciadas por capítulos.

“A escrita fawcettiana, assim, nos ilumina e nos confunde. Frases longas, exuberantes na sintaxe e contraintuitivas na semântica, são postas à nossa apreciação poética, sobrepondo-se à narrativa. A linearidade das ações está a serviço da abundante não-linearidade das imagens e sensações insurgidas. Conceitos filosóficos, sociológicos, biológicos, físicos, políticos e mesmo cosmológicos que se entrelaçam como flora e fauna em um bioma inclemente e dão forma a uma realidade impossível de ser simbolizada, construída em cima de desejos irresolutos — é assim que Fawcett nos atira para dentro de seus tex- tos e nos entusiasma com as ideias que os compõem.” Carolina Meinerz