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O narrador quer aventurar-se, pôr-se ao largo, “pena que tarde tanto o mar…”. E por isso recolhe-se ao quarto, ao leito, “há dias que acordamos até o pescoço sonhosos”, para logo nos afundarmos “no dia e suas covardias”. Ou ainda: “A luz que recortam as lâminas [da persiana] me enfaixa o corpo docemente”, deste a quem “nunca me faltou a consciência que nasci e vou morrer nesta cama”. Nem aventura nem descanso.Como a Winnie de Dias felizes, o personagem delineado neste livro poderia dizer: “Bem, seja como for, é o que sempre digo, foi um dia feliz apesar de tudo, outro dia feliz”. Apesar de tudo, inclusive de estar enfiada na terra até a cintura. O nosso autor, por sua vez, prefere enterrar-se nas cobertas, um Platão às avessas, aflito para encontrar revelações no mais fundo da caverna, descrente da limpidez das idéias. Mas também um estóico zureta, testando a todo instante as imunidades conferidas pela ataraxia. Sim, porque num piscar de olhos surgem “manhãs tão absolutas que nos levam quase a cair de joelhos aos pés do Tempo (…) tão soberanas que, coroando mundo-de-deus assim desencantado, nos fazem sentir, mesmo súditos, menos infelizes”.
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